Da quadra para a vida

Um dos esportes mais difíceis e solitário é o tênis, requer muita dedicação dentro e fora da quadra, abrir mão de festas, passeios, namoros.  Já almoçar no caminho do treino e ter uma rotina organizada é optar em pagar o preço dia sim e no outro também.

Em minha trajetória como treinador conheci diversos talentos, meninas e meninos que jogavam fácil, tinham “leitura de bola” que os colocavam sempre em situação de conforto na partida, mas sucumbiam porque não queriam pagar o preço. Já o “tenista trabalhador”, aquele que não tem tanta habilidade mas dedica-se intensamente, supera aquele que tem muita habilidade mas não trabalha e infelizmente temos uma cultura de pais que projetam seus sonhos nos filhos e quando o filho é o melhor no clube, da cidade ou região, o tratam como super astros do esporte, mimando-os excessivamente, e como afirma o professor Ph.D. Wilson Nascimento “tudo em excesso é nocivo”.

Normalmente as pessoas desejam tudo de imediato e se acham iluminados, acreditando que o mundo lhes deve algo. E o que é mais difícil do que viver? O técnico Bernardo Rezende, em seu livro – Transformando suor em ouro, diz: “a vontade de se preparar deve vir antes da vontade de vencer”.

Tal como a quadra a vida exige dedicação, disciplina e planejamento, mas são poucos que querem de fato abrir mão de prazeres momentâneos para alcançar seus objetivos, o indivíduo que deseja aprender um novo idioma, mas só abre o caderno as terças e quintas no horário de sua aula, na realidade não quer aprender. O atleta que treina todos os dias, 3 horas por semana, mas não assiste jogos, não procura parceiros de treino, não questiona seu treinador, não procura se ver jogar, não está 100% no treino físico, esse jogador se engana.

O perigo maior consiste em se auto enganar e na atual conjuntura social, alguns acreditam que é melhor parecer do que realmente ser. E quando essa pessoa coloca a cabeça no travesseiro ao fim do dia e vê os seus resultados, se incomoda, mas muitas vivem uma vida assim, fingem treinar, fingem competir e o pior, transferem suas responsabilidades.

Como treinador, já fui trocado diversas vezes, pois o pais consideravam que meu trabalho não era bom o suficiente para seus filhos, já me pediram a cabeça de preparadores físicos, e depois voltavam dizendo que os outros treinadores eram ruins, que as academias não eram tão boas assim, que tinham mais nome.

Quantas pessoas conhecemos, que almejam a casa própria, mas não resistem a uma viagem internacional por ano, trocam de carro com muita frequência, todo final de semana estão desbravando restaurantes exóticos e postando nas redes sociais para ver e serem vistos? E quando questionados sobre seus desejos, transferem a responsabilidade… meu chefe não vê o quando me dedico, não sou valorizado, viajo porque não aguento a pressão, a mulher que quer viajar, e por aí vai.

Ninguém tem uma receita para o sucesso, e a palavra sucesso é muito vaga, cada um tem seu caleidoscópio de tal. Tanto a quadra como a vida irão te derrubar isso é fato, o que diferencia as pessoas é como você irá se levantar, analisar onde errou e quais foram as circunstâncias, se conhecer, saber das suas limitações e trabalhar elas, ser honesto consigo, sem contar histórias sobretudo para si.

Atletas de ponta ou profissionais de alto desempenho em grandes corporações erram, mas nem por isso negociam o seu objetivo, suas metas.

A falta de autoconhecimento, leva pessoas a confundirem desejos com sonhos, desejos normalmente se perdem pelo caminho, já o sonho é o que você quer para sua vida, e isso você não se negocia, e aquele momento em que os olhos brilham quando o assunto é tocado.

Gustavo Kuerten

O Guga, perdeu o pai muito cedo, e encontrou com um treinador casca grossa que não aceitava o mínimo como entrega na quadra, Guga enfrentou vários obstáculos antes de chegar ao título de Roland Garros em 1997. Atleta e treinador dormiram em aeroportos, hospedaram-se em pensão em que o treinador dormia no chão, Guga saiu de casa deixando mãe e irmãos para ficar 20 semanas fora competindo. Seu título foi sorte? Não! Muito trabalho, ele não negociou nada, treinos e mais treinos com sol, chuva, frio.

Tenho uma amiga a Marcela, filha de professora, seu pai logo após seu nascimento as abandonou, toda renda da mãe era destinada para o mercado e o aluguel, Marcela decidiu cursar medicina, sua mãe foi muito honesta e disse que só podia ajudar com os livros. Marcela estudava 10 horas por dia, reprovou em três vestibulares, e na quarta tentativa passou no concorrido vestibular na USP, hoje é oncologista. Sorte? Não!! Trabalho árduo.

Empresários que quebraram uma, duas, três vezes, e hoje possuem um império. A vida é feita de escolhas e honestidade. Tanto na quadra como na vida, vi pessoas sendo derrotadas por elas mesmas, por suas dúvidas, medos e crenças que muitas vezes não permitiram que suas habilidades florescessem. Umas boa ferramenta para alcançar seus objetivos consiste em parar de julgar as pessoas e a si mesmo, parar de apontar suas fraquezas, parar de se colocar como vítima ou incapaz.

Antes de tudo, somos seres humanos temos uma vida, e se acordamos mais sadio que doente, já estamos na frente de 1 milhão de pessoas que não poderão ver a próxima semana chegar. Se você tem roupas limpas, comida e um teto pra te abrigar da chuva, calor e frio, você é mais rico que 75% da população mundial. Seja curioso, leia de tudo, tente coisas novas, o que as pessoas chamam de inteligência se resume a curiosidade.

Seja em uma quadra de tênis, em uma empresa ou em qualquer lugar, faça tudo com muita vontade, empenho e dedicação, não tenha medo, seja honesto consigo e tenha humildade para ouvir seu time, tenha coragem de se afastar de quem lhe suga energia. Lembre-se a águia não voa com pardais, comemore pequenos avanços, e tenha muita vontade de transcender, que uma hora acontece e se você já chegou no topo a sugestão é keep walking.

Prof. Dr. Wilson Nascimento

Prof. João Carlos de Brito, Tennis Coach e aluno EHumanas

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