Ultrapassando limites

Lembra quando você era criança e as pessoas perguntavam “O que você quer ser quando crescer? Aeromoça, jogadora de volêi, dançarina, médica… Quantas coisas eu já desejei ser.

Até que você cresce e a sociedade lhe impõe outra visão, a perspectiva de que o mundo é movido pelo capitalismo e se você deseja ter sucesso terá que se inserir nele.

Então decidido, serei médica! Tudo parece tão simples e metódico: estudar em uma boa escola, prestar vestibular, entrar em uma faculdade, seguir o cronograma e após 6 anos, enfim doutora.

Porém, existe algo que está além do nosso controle – os desafios. Eles só existem na vida de escolhidos, pessoas especiais; são impostos pela vida para pessoas fortes e vitoriosas, que possam superá-los. A vida de alguém que não tem desafios, que tem tudo de “mãos beijadas” é fácil, sem graça e monótona; e essas pessoas se tornam fúteis.
E o que parecia ser tão simples e fácil não foi, pois em minha vida fui desafiada!

Retrocedendo: cursar uma escola boa, estudar, passar no vestibular, entrar em uma faculdade, ganhar um carro dos pais, morar sozinha, achar que era invencível, insuperável, imortal… Até que sou humana novamente, e ao querer voar tão alto, voei mesmo, com o carro para uma ribanceira de 48 metros de profundidade.

Frágil, inconsciente e imóvel. O carro virou sucata. Me deparo então com a notícia ” você teve um trauma na coluna e não vai mais movimentar nem sentir o corpo do umbigo para baixo”. E agora? Acabou? Acabou o sonho? Acabou o carro, acabou a praia, o pé na areia, acabaram os jogos de vôlei, acabou a dança, acabou tudo!

Que grande desafio a vida me impôs não? Muitos se entregariam, como fiz no início. Até que um dia cansei de chorar, de me isolar, de definhar. Com ajuda principalmente de mãe, pai e família que são os únicos que realmente permanecem em momentos difíceis, retornei à faculdade em cadeira de rodas.

O olhar de pena das pessoas me feria por dentro ou eu desistia de tudo, ou aos poucos voltava a sorrir e viver, me aceitando e me permitindo. Só o que eu fazia era viver um dia de cada vez, superar cada minuto. Não foi fácil, uma menina que tinha tudo, aos 19 anos se deparar nesta situação. Tentei não chorar, mas o mundo é cruel. Conheci o que é ser deixada de lado, o preconceito, o não poder fazer coisas e outras dificuldades. Aprendi a agradecer por pequenos atos como alguém colocar a cadeira no meu porta-malas, pois não tinham obrigação de fazê-lo, eu precisava deles.

Finalmente aos 24 anos me formei médica, aquele diploma, aqueles aplausos tinham gosto de vitória! Eu consegui!

Hoje já exerço minha profissão há um ano e estou me especializando em psiquiatria. Só você sabe o que viveu, cada desafio que supera a cada dia, a cada minuto.
Desafio é escolher ser forte, seguir em frente diante as adversidades que a vida nos impõe. É ir além, ultrapassar todos os seus limites, ver que suas forças são inesgotáveis, que você é muito mais forte do que imaginava.
Quem vence desafios não precisa do reconhecimento, sente admiração no olhar dos outros ao invés de pena. Esses vencedores possuem brilho nos olhos e um nutrem um sentimento chamado contentamento. Nada nem ninguém é capaz de apagar o seu brilho, a trajetória que carrega.
Em todo o universo o único responsável pela realização dos seus sonhos é você mesmo. Então não perca tempo com lamentações, pode não ser conforme o planejado mas conquiste, chegue ao topo; a subida é dolorosa mas a vista lá de cima é muito agradável.

Lembre-se: você é único. Ninguém passou pelo que você passou. Honre a sua história, honre a sua vida, viva intensamente e faça acontecer.

Dra. Lais Vieira

Aluna EHumanas

@la.vieira

@cadeirante.elegante